Como surgiu a Tábua de Ouija?

A maioria das pessoas tem noções bem repetitivas sobre a história do tabuleiro Ouija, em que espíritos demoníacos se comunicam — e às vezes possuem — crianças indefesas. O diretor Mike Flanagan promove essa ideia no novo filme Ouija: Origem do Mal. A narrativa se passa em 1967: uma viúva e suas filhas ganham a vida enganando clientes que buscam contato com familiares que já morreram. O negócio de família é relativamente inofensivo até o momento em que a filha mais nova descobre um antigo tabuleiro Ouija e tenta se comunicar com o pai falecido, mas acaba sendo possuída por espíritos do mal.

Mas o tabuleiro não teve sempre essa reputação sinistra. Na verdade, ele foi criado pelo espiritualismo, um movimento do século 19 conhecido pela visão otimista sobre o futuro e a vida após a morte. Quando a popularidade do movimento diminuiu, ainda demoraram algumas décadas até que o Ouija finalmente ficasse conhecido como o jogodemoníaco da indústria cinematográfica.
Origem do espiritualismo
O movimento do espiritualismo, muitos acreditam, surgiu em Hydesville, Nova York, nos Estados Unidos, em 1848, quando duas irmãs, Kate e Maggie Fox, disseram ter ouvido uma série de batidas em casa. Ninguém conseguia definir a origem do barulho, que também se manifestava em outras casas visitadas pelas irmãs. As batidas foram logo atribuídas a espíritos, que pareciam responder às perguntas feitas pelas irmãs.
As duas se tornaram celebridades da noite para o dia e o movimento religioso baseado na comunicação com os mortos nasceu logo em seguida. O espiritualismo se espalhou pelo Atlântico e na América do Sul, mas sua popularidade aumentou especialmente na Guerra Civil Americana.
A guerra mais sangrenta da história dos Estados Unidos havia deixado muitas famílias de luto e interessadas em falar com seus entes queridos. Os médiuns espíritas, como as irmãs Fox, ofereciam esse conforto. Em 1893, o movimento foi considerado uma religião oficial e em 1897 o jornal The New York Times divulgou que existiam oito milhões de seguidores do espiritualismo ao redor do planeta.
Desde o início, cristãos alegaram que a religião era apenas um disfarce para rituais de feitiçaria, mas os adeptos raramente mostravam ser obscuros ou mórbidos de alguma forma. O escritor espiritualista Andrew Jackson chegou a desafiar o conceito de inferno, dizendo que todos os espíritos podem entrar em um paraíso na vida após a morte. Espiritualistas também apoiaram causas progressivas, como o sufrágio feminino.
1) O tabuleiro de Ouija está diretamente relacionado ao espiritualismo, que surgiu como um movimento religioso em 1848 e virou religião em 1893. O espiritismo, comum no Brasil, surgiu na mesma época, em 1857. Em comum, as religiões partilham a crença em espíritos e na possibilidade de comunicação com eles. Nessa época, médiuns e sessões espíritas eram coisas comuns e aceitas pela sociedade
2) Em meio a esse contexto de mediunidade disseminada, acessórios para mediar o contato com os mortos eram normais. Os tabuleiros de fala (“talking boards”), com o alfabeto impresso, já faziam sucesso nos EUA do século 19, mas foi em 1890 que o empresário Elijah Bond teve o estalo de vender um desses junto a uma prancheta que deslizasse sobre as letras. William Fuld, um de seus funcionários, logo começou a produzir as próprias tábuas e é creditado como responsável por popularizar o jogo
3) Ninguém sabe direito de onde veio o nome “Ouija”. O folclore em torno do item aponta que seria uma junção das palavras “sim” em francês e alemão – “oui” e “ja”. Segundo o historiador Robert Murch, o nome teria sido sugerido pela própria tábua em uma sessão de Elijah Bond com sua cunhada, Helen Peters. Mas é bem provável que essa manifestação tivesse a ver com o colar que Helen usava naquele momento, contendo uma foto de uma mulher ativista chamada Ouida
4) Foi durante a 1ª Guerra Mundial (1914-1918) que a popularidade do tabuleiro de Ouija cresceu, principalmente entre católicos. No contexto de incertezas e mortes, cresceu nas pessoas o desejo de saber sobre o futuro e contatar entes queridos falecidos. Preocupado, o Papa Pio X convocou, em 1919, o “investigador psíquico” J. Godfrey Raupert para alertar os fiéis sobre os ricos do jogo. Foi nessa época que ele publicou o livro A Nova Magia Negra e a Verdade Sobre o Tabuleiro Ouija, relacionando o tabuleiro à magia negra
5) Foi o livro O Exorcista, de William Blatty, que, em 1971, mudou a fama do jogo. É que o autor se inspirou no caso real de um garoto do estado de Maryland que teria entrado em contato com um demônio por meio do jogo em 1949 e, depois, teria sido possuído pela entidade. Com isso, de instrumento para falar com os mortos, a tábua de Ouija virou um artefato de invocação demoníaca. A adaptação cinematográfica de 1973 só aumentou essa fama
6) Com o tempo, o uso do tabuleiro deixou de estar associado à religião e ficou mais ligado ao ocultismo – os católicos, por exemplo, hoje condenam o item. Mas ele continua popular, sendo o tema de filmes como Ouija (2014) e tendo vendido a quantidade estimada de pelo menos 25 milhões de unidades na história. É fácil achar o tabuleiro em lojas de brinquedos – a dona atual da patente é a gigante Hasbro
7) Existe uma explicação científica para o movimento que rola no jogo. Chama-se efeito ideomotor – a influência da sugestão sobre comportamentos motores involuntários. Em seu livro Pseudociência e o Paranormal, de 1988, o professor de neurologia Terence Hines escreve: “A prancheta é guiada por exerções musculares inconscientes. A ilusão de que o objeto está se movendo sozinho é geralmente extremamente poderosa e suficiente para convencer muitas pessoas que realmente há espíritos trabalhando”
Charles W. Kennard
Mais tarde, Charles W. Kennard criou a empresa responsável pela construção dos tabuleiros ouija e transformou um jogo essencialmente ocultista em um dos mais populares jogos de mesa da cultura norte-americana. Em um dado momento, a patente foi vendida para William Fuld, um funcionário da empresa de Kennard, que continuou comercializando o jogo até ele ter seus direitos adquiridos pela Parker Brothers, em 1966.

Os maiores picos de venda do tabuleiro ouija ocorreram durante os momentos mais trágicos da história humana moderna: a Primeira e Segunda Guerra Mundial, a Guerra do Vietnã e, posteriormente, a Guerra do Golfo. As pessoas sempre acreditaram que se tratava de um método eficaz para contatar aqueles que já morreram.

No Brasil, por exemplo, há variantes conhecidas como a "Brincadeira do Copo", "Jogo do Copo" ou até mesmo a "Brincadeira do Compasso". Hoje em dia, essas "brincadeiras" não são tão comuns entre os adolescentes, visto que estamos em uma era digital onde o celular e as redes sociais predominam.  




Fonte:
Assombrado
Galileu
Mundo Estranho

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